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segunda-feira, 3 de junho de 2013
domingo, 2 de junho de 2013
Estudos associam consumo de Herbalife a lesões no fígado
A divulgação dos artigos alertou
pesquisadores, inclusive da Universidade Estadual de Maringá (UEM), sobre
riscos à saúde aos quais consumidores de produtos ditos naturais, vendidos como
suplementos alimentares ou dietéticos, podem estar sujeitos.
Na avaliação do
professor de Farmacologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Roberto
Bazotte, o registro e a comercialização deste tipo de produto sem que sejam
feitos exames de toxicidade prévios é um equívoco. “Quando não são feitos
estudos toxicológicos em animais de laboratório, o cobaia é o ser humano”,
afirma. Bazotte espera que o resultado dos estudos suíço e israelense contribua
para disseminar a importância da pesquisa científica que deve anteceder o
lançamento de qualquer produto para o consumo humano.
O alerta chegou
também à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que solicitou os
processos de todos os produtos registrado no País pela empresa Herbalife
International do Brasil Ltda., para reavaliação dos mesmos quanto à segurança
de uso como alimentos. Em vários países, incluindo o Brasil, o registro
sanitário de suplementos alimentares ou dietéticos é feito na categoria
?alimentos?, e não ?medicamentos?, o que os livra dos rigorosos processos de
aprovação e controle.
O editorial de
apresentação dos estudos, “Slimming at all costs: Herbalife induced liver
injury” (Emagrecendo a todo custo: Herbalife causa lesões no fígado), assinado
por Felix Stickel, do Instituto de Farmacologia Clínica da Universidade de
Berna, informa que muitos indivíduos que consomem suplementos alimentares se
consideram “clientes” em vez de “pacientes”, pois não têm a intenção específica
de tratar doenças, senão melhorar a saúde de modo geral.
O editorial prossegue
e esclarece que relatórios sobre reações adversas e lesões no fígado pela
utilização de suplementos alimentares ou dietéticos são ocorrências médicas,
pois estes preparados naturais não são tão inofensivos quanto anunciados.
Ainda de acordo com
o editorial, as lesões observadas nos pacientes são típicas de intoxicação por
Plantago ovata e Emblica officinallis, ervas que atuam na sensação de saciedade
e na estimulação do apetite, e não se pode negar que os produtos analisados
contém uma das substâncias. A contaminação do fígado com químicas, tais como
conservantes, pesticidas, realçadores de sabor e metais pesados, adicionados
propositalmente à fórmula ou presentes nos produtos crus, também são descritos
no editorial.
O fato dos
pacientes acompanhados terem ingerido entre três e 17 diferentes produtos
Herbalife, torna extremamente difícil, senão impossível, identificar o agente
causador da intoxicação, até porque a empresa se recusou a fornecer as fórmulas
para análise detalhada. As suspeitas recaem sobre a efedrina e o
N-nitroso-fenfluramina.
Stickel também
respondeu a reportagem de O Diário por e-mail. Ele acredita que a Herbalife
tentará questionar a relação entre a ingestão dos produtos e as lesões no
fígado, mas não está seguro sobre a utilidade da informação para os
consumidores. “Talvez os pacientes se tornem mais céticos, mas tenho dúvidas
que isso vá acontecer. A procura por esse tipo de produto é inacreditável e
rende bem no bolso daqueles que acreditam que isso só faz bem.”
Cientistas querem rigor no registro
Em entrevista
concedida por e-mail, o pesquisador suíço Juerg Reichen, professor de
Hepatologia da Universidade de Berna, diz que o estudo clínico foi iniciado a
partir da observação de um caso de lesão fulminante no fígado, seguindo os
critérios CIOMS da Organização Mundial da Saúde. “Herbal does not mean
innocuous: ten cases of severe hepatotoxicity associated with dietary
supplements from Herbalife products” (Natural não necessariamente significa sem
efeito tóxico: dez casos de hepatotoxicidade severa associados com a dieta
suplementar dos produtos Herbalife), envolveu oito pesquisadores, entre médicos
e farmacêuticos.
Por meio de um
questionário, foram identificados 12 casos de intoxicação do fígado associados
a produtos Herbalife, entre 1998 e 2004. Dois casos foram excluídos. Os outros
dez pacientes, com idades entre 30 e 69 anos e que passaram a manifestar
sintomas após cinco meses de uso dos produtos, foram acompanhados. A biópsia do
fígado de cinco pacientes apresentaram morte celular irreversível (necrose) e
inflamação elevada (hepatite). Um paciente,cujo fígado parou de funcionar, foi
transplantado, com sucesso. Analisado, o órgão apresentou hepatite severa.
Outros três pacientes apresentaram hepatite fulminante, síndrome de obstrução
de microestruturas do fígado e destruição gradual de células do órgão (cirrose
hepática). Os pesquisadores suíços concluem pela gravidade das lesões
observadas e recomendam, ao lado de maior detalhamento dos componentes da
fórmula, regras de regulação mais rígidas.
Ao mesmo tempo,
afirmam que a ameaça à saúde pública dos produtos Herbalife é pequena e não
deveria ser exagerada, se comparada aos incidentes de reações hepáticas com
drogas sintéticas.
Estudo recomenda cautela
Em Israel, o estudo
“Association between consumption of Herbalife nutritional supplements and acute
hepatotoxicity” (Associação entre consumo do suplemento alimentar Herbalife e
hepatotoxicidade aguda) foi feito a pedido do Ministério da Saúde, após serem identificados
quatro casos de hepatite associados ao consumo dos produtos da marca, em
2004.
Uma investigação em
diversos hospitais do país teve início. Doze pacientes com lesões idiopáticas
(sem causa conhecida) no fígado, que faziam uso de produtos Herbalife foram
acompanhados. Do total, 11 eram mulheres. Duas já tinham lesões e pioraram com
o consumo dos produtos. Por volta do 11º mês de uso, os danos ao fígado
começaram a se manifestar.
Onze pacientes
superaram o quadro de hepatite sem seqüelas. Três deles, que voltaram a
consumir produtos Herbalife, desenvolveram a doença novamente. O transplante de
fígado foi necessário para um deles, que não sobreviveu. Os cientistas
recomendam cautela aos consumidores dos produtos.
Ong quer rótulo mais esclarecedor
Em 1995, em uma
doação desangue, o químico e economista Carlos Varaldo descobriu que tinha o
vírus da hepatite C. Os médicos não lhe deram esperança de cura e nem
aconselharam tentar o tratamento. “Decidi lutar, pois não poderia morrer antes
de minha mãe. Com a doença de Alzheimer, ela dependia da minha ajuda. Estudei a
doença, tratei e estou curado há 10 anos.”
Por orientação de
um cientista, Varaldo importou da Itália ribavirina e interferon, medicação
para o tratamento de hepatite que ainda estava sendo pesquisada. Ele tomou
ribavirina por 21 meses e interferon por mais 18 meses. Hoje, este é o
tratamento padrão para a doença no mundo. Desde então, Varaldo freqüenta
congressos médicos que discutem hepatite, integra o Comitê de Ética de Pesquisas
em Seres Humanos da Fundação Oswaldo Cruz e coordena a organização
não-governamental Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, que mantém
na internet uma página com informações sobre a doença (www.hepato.com). Mais de
27.500 pessoas são cadastradas. No dia 15 de outubro de 2007, Varaldo divulgou
as publicações do Journal of Hepatology na página. A Herbalife enviou uma nota
de esclarecimentos, também publicada.
A nota foi
encaminhada para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Espero
que a Anvisa tome providências imediatas, obrigando a empresa a colocar nos
rótulos que os produtos devem ser evitados por quem tem algum problema no
fígado e que somente devem ser ingeridos após consulta médica”, diz Varaldo.
O presidente do Grupo
Otimismo também espera que a Sociedade Brasileira de Hepatologia e o Programa
Nacional de Hepatites Virais também solicitem a adequada rotulagem à agência.
Anvisa tem registro da Herbalife
Na Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa), os “suplementos alimentares” podem ser
enquadrados nas categorias de Alimentos para Dietas, Novos Alimentos, Alimentos
com Alegações de Propriedade Funcional e/ou de Saúde, Substâncias Bioativas e
Probióticos e Suplementos Vitamínicos e ou Minerais.
O registro é
individual e obrigatório antes da comercialização do produto. Os produtos
Herbalife são registrados como Alimentos para Dietas. O Pó para o Preparo de
Bebidas para Controle de Peso, por exemplo, está registrado sob o número
6.1609.0004.
De acordo com
informações fornecidas pela assessoria de comunicação da agência, somente os
produtos registrados nas categorias novos alimentos e alimentos com alegações
de propriedade funcional e/ou de saúde devem passar por avaliação de segurança
de uso e/ou comprovação de eficácia da alegação de propriedade funcional e ou
de saúde pretendida.
Para isso, são
exigidas evidências científicas tais como ensaios nutricionais e/ou
fisiológicos e/ou toxicológicos em animais de experimentação, ensaios
bioquímicos, estudos epidemiológicos, ensaios clínicos e outras providências.
Segundo a
assessoria de comunicação, a Câmara Técnica de Alimentos vai discutir os
resultados dos estudos. Entre os pontos que deverão ser analisados estão a
metodologia dos estudos e as fórmulas dos cerca de 17 produtos utilizados pelos
pacientes, já que a variação das fórmulas de produtos vendidos em diferentes
países é freqüente.
Se o risco à saúde
pública for confirmado, os produtos podem ser interditados e ter a
comercialização proibida. Dependendo do resultado do processo administrativo
sanitário, a empresa também poderá ser multada.
Empresa afirma que suplementos são
seguros
Herbalife se
manifesta por meio da assessoria de comunicação e afirma que produtos não
oferecem risco à saúde e que não há evidência conclusiva dos problemas
relatados
Em nota oficial
enviada pela assessoria de imprensa, a Herbalife afirma que os produtos estão
presentes em 65 países ao redor do mundo, são comercializados por 1,6 milhões
de distribuidores independentes e estão sendo largamente consumidos ao longo
desses 27 anos em que a empresa está no mercado. “Não existe nenhuma evidência
conclusiva de que os produtos da Herbalife sejam responsáveis pelos problemas
hepáticos relatados nos artigos citados”, afirma a empresa em nota oficial.
A empresa se diz
ciente do relato de que um número infinitamente pequeno de consumidores
apresentou alteração nos valores considerados normais para as enzimas
hepáticas. Em resposta, a companhia consultou especialistas em hepatologia,
promoveu pesquisas independentes, colaborou com as autoridades governamentais e
afirma que não foi encontrada nenhuma base científica para afirmar que qualquer
produto da marca, quando consumido como recomendado no rótulo, seja
potencialmente tóxico ou que exista qualquer componente nesses produtos que
possa oferecer danos para o fígado.
Ainda de acordo com
a nota, a Herbalife realizou todos os exames sobre os produtos sugeridos pelo
Ministério da Saúde de Israel, incluindo pesquisas sobre toxinas hepáticas
conhecidas, metais pesados e pesticidas. Todos os testes foram negativos e
devidamente encaminhados para as autoridades israelenses.
A empresa assume
que existem diversos fatores que podem ser responsáveis pelos valores anormais
das enzimas hepáticas experimentados pelos pacientes discutidos nos artigos
científicos. Inicialmente, muitos desses indivíduos já apresentavam previamente
sérias complicações médicas, tais como infiltração gordurosa do fígado,
síndrome metabólica e hepatites, que são as causas mais comuns das alterações
hepáticas que eles acabaram por manifestar. A nota oficial informa ainda que
todos os produtos são detalhadamente rotulados com as instruções e
recomendações de uso. Além disso, a companhia recomenda que pessoas com
eventuais problemas de saúde, gestantes ou lactantes consultem um profissional
capacitado antes de iniciar um programa de controle de peso ou de suplementação
nutricional.
Defesa
Nataniel Viuniski –
Nutrólogo, integrante do Conselho – Médico da Herbalife no Brasil
- O artigo da
pesquisa suíça informa que a Herbalife se negou a fornecer a fórmula para
análise detalhada. A empresa colaborou ou não com o estudo?
O editor da revista, Felix Stickel, tentou entrar em contato com a Herbalife através do escritório da empresa na Alemanha, que é uma representação pequena, sem pessoal habilitado a prestar esse tipo de informação. Para desfazer esse equívoco, o chefe do Conselho para Assuntos Nutricionais da Herbalife, David Heber, escreveu uma carta de esclarecimento à revista que deverá ser publicada nas próximas edições.
O editor da revista, Felix Stickel, tentou entrar em contato com a Herbalife através do escritório da empresa na Alemanha, que é uma representação pequena, sem pessoal habilitado a prestar esse tipo de informação. Para desfazer esse equívoco, o chefe do Conselho para Assuntos Nutricionais da Herbalife, David Heber, escreveu uma carta de esclarecimento à revista que deverá ser publicada nas próximas edições.
-Se a empresa
afirma que não há evidência conclusiva da relação entre as lesões e os
produtos, por que os artigos foram publicados dois anos depois de concluídos?
Como médico e cientista, respeito a publicação.
Mas o pequeno número de casos relatados, o grau de incerteza envolvido na obtenção dos dados clínicos dos sujeitos afetados e o tempo passado entre o ocorrido e a data da publicação, normalmente não justificariam a aprovação para publicação desse artigo. Na minha experiência pessoal, nenhuma revista séria aceitaria para publicação dados com tão baixas reprodutibilidades estatísticas.
Mas o pequeno número de casos relatados, o grau de incerteza envolvido na obtenção dos dados clínicos dos sujeitos afetados e o tempo passado entre o ocorrido e a data da publicação, normalmente não justificariam a aprovação para publicação desse artigo. Na minha experiência pessoal, nenhuma revista séria aceitaria para publicação dados com tão baixas reprodutibilidades estatísticas.
-O senhor acredita
que testes dos produtos Herbalife em animais de laboratório poderiam evitar
dúvidas em relação à segurança dos mesmos?
Nem eu e tampouco as autoridades sanitárias dos países onde a Herbalife está presente vemos necessidade de realizar testes com animais de laboratórios, exatamente porque a empresa assegura a segurança dos produtos.
Nem eu e tampouco as autoridades sanitárias dos países onde a Herbalife está presente vemos necessidade de realizar testes com animais de laboratórios, exatamente porque a empresa assegura a segurança dos produtos.
Fígado sofre com lesões constantes
O fígado responde
por variadas e complexas funções. Entre elas, a metabolização de remédios. São
os fatores de coagulação e os que dissolvem coágulos, ambos produzidos pelo
fígado, que nos impedem de sangrar espontaneamente ou ter o sangue coagulado
dentro dos vasos. É também de responsabilidade do fígado manter as taxas de
glicose normais no sangue, mesmo no jejum prolongado, para manter o cérebro em
atividade. “A detoxificação das drogas torna o fígado vulnerável à exposição
excessiva a determinadas substâncias”, explica o hepatologista Ecio Nascimento,
professor do Departamento de Bioquímica da Universidade Estadual de Maringá
(UEM). Segundo ele, as agressões ao fígado ocorrem de duas maneiras: uma,
diretamente ligada à quantidade. “O abuso de álcool é um bom exemplo.”
A outra, chamada
?reação idiossincrássica?, independe da dose. “Um único comprimido ou injeção
de determinado medicamento pode causar uma hepatite fulminante e ser fatal”,
explica. Geralmente, o fígado não dói. As manifestações de que algo não vai bem
podem variar entre icterícia, fadiga, cansaço e alteração da consciência, que
significa quadro grave. No entanto, quando estes sinais aparecem, a doença
hepática já pode estar em grau avançado de destruição.
Na avaliação de
Nascimento, os suplementos alimentares e dietéticos deveriam passar pelo mesmo
rigor dos medicamentos para obter o registro junto aos órgãos competentes. Para
ele, o alerta feito pelos estudos estrangeiros é válido. De um lado, por
reforçar a necessidade do cuidado à saúde, o que inclui parcimônia com o uso de
produtos naturais. De outro, por lembrar que milagres só ocorrem em novelas.
“Quem tem sobrepeso ou está obeso deveria ter acompanhamento médico para
avaliar co-morbidades, como hipertensão arterial ou diabetes”, orienta. “É um
erro acreditar que a vida mudará apenas consumindo Herbalife. É preciso esforço
físico, diminuição do consumo excessivo de alimentos e definição dos horizontes
de vida, para que a diminuição do peso e melhora da auto-estima sejam objetivos
de longo prazo, não passageiros.”
Carlos Varaldo
Grupo Otimismo
Grupo Otimismo
Estudos científicos internacionais
apontam o uso do complexo alimentar Herbalife a problemas no fígado
Produtos da
Herbalife, uma das marcas de suplementos alimentares para emagrecer mais
conhecidas, foram objeto de estudos clínicos sobre intoxicação no fígado na
Suíça e em Israel, e publicados em 2007 no Journal of Hepatology, revista
científica européia, uma das mais conceituadas na área. Ambos os estudos
relacionam o uso de produtos da marca Herbalife e lesões hepáticas graves, como
morte de células ou parte do tecido do fígado (necrose) e inflamação do fígado
(hepatite).
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